O bullying é uma forma de agressão intencional (física, verbal ou psicológica) e repetitiva sobre um indivíduo, com desequilíbrio de poder ou força entre vítima e agressor e incapacidade de defesa por parte da vítima. No Brasil existem medidas nacionais ou adaptadas que mensuram o bullying, mas nenhuma avalia, de forma global (agressores e vítimas) na perspectiva multidimensional, com 4 dimensões ou formas de manifestações (Bullying verbal, físico, relacional e cyberbullying). Nesse sentido, esta pesquisa buscou contribuir sanando esta lacuna, já que teve como principal objetivo elaborar, reunindo evidências psicométricas, a Escala Global de Bullying – Agressor e Vítima (EGB - AV). Apesar de escalas internacionais recentes avaliarem o construto sob perspectiva semelhante, optou-se por elaborar uma medida nacional mais condizente com as peculiaridades culturais do nosso país. Para isso, realizou-se um estudo divido em duas etapas. Inicialmente foram examinadas evidências iniciais de validade e precisão da EGB – AV [oriunda das versões preliminares da ECB (Medeiros et al., 2015) e da EVB (Gomes, 2020)], cuja versão preliminar (60 itens) foi analisada, via Teoria de Resposta ao Item (TRI), selecionando-se os melhores itens para compor a versão final (24 itens). Em seguida, avaliou-se a estrutura do modelo hierárquico Tetrafatorial proposto para a EGB – AV, comparando-o com os modelos alternativos (Bifactor e Unifatorial) para as subescalas EGB – A e EGB – V. Uma amostra de 639 estudantes (entre 10 e 17 anos) de escolas públicas e privadas do Estado do Piauí responderam aos itens da escala preliminar, juntamente com questões sociodemográficas. As coletas foram realizadas individualmente em salas de aula, após autorizações legais necessárias, e os dados foram analisados pelos softwares IBM SPSS, Factor e R (pacotes Psych, Mirt, Lavaan, SemTools, SemPlot e Ggplot2). Os resultados demonstraram um modelo hierárquico tetrafatorial mais ajustado (χ2 = 349,47; gl = 243, CFI = 0,99, TLI = 0,99; RMSEA = 0,03, IC+/- 90% = 0,02/0,03), cujos índices confirmaram unidimensionalidade para cada uma das dimensões de bullying, consequentemente, indicando soluções fatoráveis para suas matrizes. A estrutura fatorial consiste em dois fatores de segunda ordem (EGB_V e EGB_A) cada um explicando quatro fatores de primeira ordem (bullying físico, verbal, relacional e cyber), cada qual, por sua vez, saturando três itens com cargas fatoriais todas acima de 0,35. Além disso, a maioria dos indicadores de precisão estão acima de 0,80, para intervalos de confiança de 95%, e itens altamente discriminantes, informativos e com maior capacidade de avaliar sujeitos com magnitudes médias e altas de theta (θ). Ao final, obteve-se uma medida curta, simples, abrangente acessível e psicometricamente adequada e confiável, que poderá ser utilizada para pesquisar antecedentes e consequentes das diversas formas de manifestações do bullying, a fim de propor estratégias de enfrentamento desse fenômeno tão grave, complexo e adoecedor