Após séculos de exclusão no processo de ensino, hoje no Brasil as pessoas cegas têm garantidas legalmente o direito à escolarização. Entretanto, embora tenha sido conquistado o acesso à escola, a permanência e a qualidade ainda são um grande desafio para esta população. Vygotsky em sua compreensão a respeito da capacidade de aprendizagem das pessoas com deficiência, considera que a deficiência é uma dificuldade imposta muito mais pela sociedade do que pelo problema fisiológico. Ao tratar-se do aluno deficiente, o estigma de incapacidade e ineficácia socialmente cristalizados, ainda aparenta estar incorporado nas práticas educacionais. Nesse sentido, o presente estudo teve como objetivo geral compreender as trajetórias de escolarização de pessoas cegas piauienses a partir de suas memórias sociais. Teve como objetivos específicos: Identificar nas memórias sociais das trajetórias de escolarização de pessoas cegas piauienses, situações consideradas negativas e positivas vivenciadas no espaço escolar; analisar a relação existente entre a busca por direitos sociais pelas pessoas cegas e ampliação progressiva de inserção de pessoas cegas no sistema formal de ensino piauiense; conhecer a partir das trajetórias escolares de pessoas cegas piauienses os diferentes elementos contribuintes e aspectos influenciadores para e inserção do mundo do trabalho. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade Federal do Piauí, sob o número do parecer: 4.021.118. Tratou-se de uma pesquisa qualitativa, descritiva, com a metodologia da História Oral, pelo viés das narrativas de trajetórias de vida escolar. Para o estudo, foram utilizados os seguintes critérios de inclusão: ser uma pessoa cega com idade superior ou igual a 18 anos; ambos os sexos; ter cursado a escolarização básica até o ensino médio no estado do Piauí. Dessa forma, compuseram a pesquisa 10 participantes, sendo seis do sexo feminino e quatro do sexo masculino, com idades entre 18 a 50 anos de idade. As entrevistas foram realizadas de maneira virtual por meio do aplicativo Google Meet, e entrevista foi conduzida por meio dos seguintes eixos norteadores: Escolarização, processos de escolarização e aspectos positivos e negativos; Vida escolar e conquista de direitos escolares; Família, atividades extracurriculares e aspectos influenciadores para o mundo do trabalho. As análises foram feitas a partir da Análise de Conteúdo Temática e teoricamente a partir de pressupostos que embasam a Psicologia Escolar Crítica, com destaque à Psicologia Histórico-cultural e à Pedagogia Histórico-Crítica. A descrição empírica dos dados foi dividida em dois estudos, o primeiro intitulado – “Como foi ser aluno cego na escola? Trajetórias e memórias da escolarização de cegos piauienses”, e o segundo estudo, intitulado: Escolarização de cegos piauienses: memórias e lutas por direitos educacionais”. Entre os achados do primeiro estudo, destacam-se a dificuldade de mediação dos conhecimentos em sala de aula por parte de professores, exclusão por parte dos colegas em sala de aula, exclusão essa que ora expressa de forma explícita (agressões físicas, agressões verbais, etc.), como de forma sutil (exclusão de trabalhos em grupo, evitar diálogos, etc.), a importância da relação afetuosa e de convívio social com alguns colegas e trabalhadores da escola para a permanência dessas pessoas na escola apesar das dificuldades enfrentadas. Já o estudo 2, evidenciou as trajetórias de luta das pessoas cegas pelos direitos à escolarização, bem como do papel dessa instituição no processo de preparação para a vida social posterior à Educação Básica. Apontou-se, com isso, a necessidade de formação política das pessoas cegas do estado, bem como de suas famílias, a respeito dos seus direitos ligados à escolarização e cidadania, assim como a necessidade de uma maior comunicação entre as demandas educacionais das pessoas cegas, com o poder legislativo e as políticas públicas de inclusão escolar.