A pesca artesanal reúne uma série de saberes, elementos e práticas que conjugam vida social, com
organizações política e ações de luta e re-existência para manutenção de suas tradições e
enfrentamentos às ameaças do poder econômico, especulativo-financeiro-imobiliário, turístico e
predatório aos territórios de comunidades tradicionais. Apesar da pesca ser relacionada a figura
masculina, existe participação feminina em diversos processos produtivos da pesca, inclusive na
defesa dos territórios diante dos conflitos socioambientais. O estudo possui como objetivo
analisar a atuação sociopolítica da mulher pescadora na defesa de seus territórios frente aos
conflitos socioambientais. Essa pesquisa trata-se de um estudo empírico de caráter qualitativo. A
pesquisa ocorreu em dois momentos: a) etapa documental, realizada por meio das mídias sociais:
Google, Instagram e Facebook, na perspectiva de alcançar uma visão ampla dos conflitos
socioambientais em diferentes comunidades pesqueiras do país, tendo as mulheres pesqueiras no
protagonismo na defesas dos seus territórios; b) etapa empírica com a compreensão dessa
realidade com a especificidade do contexto do litoral piauiense, com a realização de entrevistas
semiestruturadas com seis mulheres marisqueiras do município de Ilha Grande-PI, organizadas na
Associação de Catadores de Mariscos. Os dados foram analisados com base no método de análise
de conteúdo proposta por Minayo, a partir das categorias: Gênero; Políticas Públicas, Conflitos
Socioambientais e Pesca Artesanal, cada categoria levanta discussões pouco presentes na
sociedade e entre órgãos competentes na defesa e preservação do território e populações
tradicionais. Durante a pesquisa foi possível compreender as singularidades nos modos de sentir e
fazer das mulheres que vivem e sobrevivem da pesca, contribuindo para o reconhecimento delas
nesse ambiente ainda associado a figura masculina. A existência e importância feminina no setor
evidencia a necessidade de discussões sobre gênero, dando visibilidade a estas mulheres que
sofrem com a precarização de serviços básicos, como saneamento básico, moradia e saúde, além
de se tornarem agentes fundamentais na preservação dos recursos naturais e território frente a invasões e degradação ambiental causados por grandes empreendimentos. Nesse sentido, deseja-se despertar cada vez mais pesquisas que complementem essa problemática e fortaleça discussões que provoquem transformações na realidade de vulnerabilização de comunidades pesqueiras e de suas populações.