Introdução: O sistema carcerário é um dos assuntos que sempre esteve em vigor no meio jurídico e social, no entanto, as atenções são mais voltadas ao público masculino por serem a maioria dentro do sistema prisional, se fazendo necessário discussões sobre as mulheres encarceradas, mesmo o número sendo bem menor que os homens, uma vez que o número de presas vem crescendo exponencialmente em todo o mundo (Davim, 2016). O aumento das mulheres na criminalidade é um fenômeno relacionado a diferentes aspectos, porque perpassa diferentes segmentos sociais e contextos históricos, onde a mulher amplia sua participação na sociedade, inclusive na criminalidade (Lima, 2006). Fundamentação Teórica: A maior parte das mulheres são detidas por envolvimento com drogas seja por dependência química ou por tráfico, o que sugere ser a questão econômica um dos fatores responsáveis pela entrada de mulheres na criminalidade, com práticas criminosas que funcionam como complemento de renda (Davim,2016). A mulher como chefe de casa, responsável pelo sustento dos seus filhos sem uma equiparação de seus salários com os homens, geralmente inferior aos recebidos pelos homens, tem aumentado a pressão financeira sobre elas e contribuído para influenciá-las a entrar no mundo do crime no decorrer dos anos. Mulheres que, muitas das vezes, são advindas de uma estrutura familiar disfuncional, sem afeto e cuidado, falta de acesso à educação e aos recursos básicos de sobrevivência, as altas taxas de desemprego, o subemprego, a negligência e a violência, são alguns dos elementos que desde cedo estão na trajetória de vida, tornando- se determinante para sua inserção no mundo do crime (Pedrosa, 2012). Como também a precariedade das relações interpessoais e os motivos passionais são alguns fatores que podem ser considerados indutores da criminalidade feminina, como o desempenho de papeis de subordinação aos homens, como por exemplo, levar drogas até as penitenciárias, assumir os negócios do seu companheiro, entre outras práticas criminosas que passa a desenvolver após se envolver com um homem criminoso. E quando são presas sofrem muito mais preconceito que os homens, assim como também o abandono familiar, devido ao papel que a mulher ocupa na sociedade (Queiroz,2015). As teorias tradicionais na área da criminologia, especialmente do público feminino demostram que a prática criminosa das mulheres esta fundada em estereótipos sexuais, como a ideia de que a mulher é um ser passivo, movido, sobretudo, pela emoção, e cujas prioridades são, naturalmente, a família, o marido e os filhos, com a construção de papéis ligados a comportamentos delicados, dóceis e passivos, como cuidadora da família e do homem. Os pré-conceitos existentes são muitos, elas são vistas como não merecedoras de afeto, carinho e desejos sexuais, isso acontece por dois fatores: serem mulheres e terem cometido crimes. Visto que a mulher ainda ocupa uma figura de diferença nas práticas sexuais, como se elas não tivessem as mesmas necessidades que os homens e que pelo fato de estarem privadas de liberdade tem menos direito de suprir sua necessidade de relações sexuais. A mulher em situação de cárcere diverge com relação ao papel de cuidado, assumir responsabilidades e relações amorosas, em que a realidade é o abandono afetivo e das práticas sexuais (Ferreira & Fernandes, 2020). Seu lugar é rapidamente substituído, sua responsabilidade assumida por outra mulher e a solidão é quem mais ganha espaço dentro das prisões. O que faz com que estas mulheres procurem estabelecer laços afetivos e relações amorosas dentro das prisões e, às vezes, com outras mulheres, como forma de se sentirem amadas, protegidas e cuidadas (Araújo & Chaves, 2021). Rodrigues, Andrade e Faro (2008) consideram que a sexualidade está diretamente ligada a qualidade de vida do sujeito, sendo uma o pilar da outra. É de vital importância para a manutenção das relações interpessoais saudáveis, e que proporciona uma cadeia de emoções positivas na vida do indivíduo, mas se tratando das mulheres privadas de liberdade o direito a visita intima e a manutenção das suas relações nas prisões, mesmo estando em lei, elas encontram dificuldades para manter suas relações afetivas, assim como as sexuais. Em consonância com estas ideias Zancan e Habigzang (2018), também apontam para as dificuldades encontradas dentro do sistema prisional na manutenção dos vínculos amorosos. Diante do exposto, o objetivo geral deste estudo é analisar as percepções das relações afetivas sexuais de mulheres em cumprimento de pena no Estado do Piauí. E de modo específico, pretende: verificar a percepção do suporte social recebido no contexto do sistema prisional; identificar a influência da privação de liberdade na manutenção dos vínculos afetivos sexuais; compreender a repercussão das visitas íntimas na vida das mulheres encarceradas; avaliar o impacto da privação de liberdade na saúde mental destas mulheres. Método: Trata-se de uma pesquisa de métodos mistos (quantitativo e qualitativo) do tipo exploratória. Uma das razões para a escolha deste método se dá pela possibilidade da melhor interpretação e compreensão dos dados, uma vez que a literatura disponível sobre o tema estudado ainda é pouco explorada. A pesquisa será realizada em três penitenciárias femininas do Estado do Piauí e contará com a participação de 100 mulheres, com idade a partir de 18 anos. Para a coleta dos dados serão utilizados: questionário sociodemográfico, uma entrevista semiestruturada; o Questionário de Suporte Social – SSQ e o Self-Reporting Questionnaire (SRQ-20). O estudo seguirá todas as normas éticas estabelecidas pela Resolução n. 466/2012 e 510/2016 do Conselho Nacional de Saúde e será submetido à aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade Federal do Delta do Parnaíba (UFDPar). Para a análise dos dados quantitativos será construído um banco de dados utilizando o Software SPSS for Windows – versão22. Serão utilizadas medidas de tendência central (frequência, média, mediana) e medidas de dispersão (desvio-padrão) para descrever as características sociodemográficas dos participantes, como também será utilizada a frequência para análises das escalas utilizadas. Para análise dos dados qualitativos textuais, será utilizado o software IRAMUTEQ (Interface de Repourles Analyses Multidimensionnelles de Texteset de Questionnaires versão 0.7). De acordo com Camargo e Justo (2013) ele permite fazer análises estatísticas tanto de caráter qualitativa quanto quantitativa sobre corpus textual por meio de lexicografia (frequência e estatísticas básicas), este se encontra hospedado no software R (R Development Core Team, 2011). Serão realizadas as seguintes análises: Nuvem de palavras, que diz respeito a representação gráfica e organização das palavras de acordo com as frequências desta; Nuvem de palavras, que diz respeito a representação gráfica e organização das palavras de acordo com as frequências desta e a Classificação pelo método de Reinert, que possibilita realizar uma classificação hierárquica descendente (CHD). Resultados e/ou Encaminhamentos para os Resultados: Uma revisão sistemática foi realizada sobre produções científicas que abordam a mulher encarcerada e as relações afetivas dentro da prisão. Os achados da revisão até o momento permitiram a obtenção de um panorama da discussão acerca da perda do vínculo afetivo em mulheres encarceradas nos últimos cinco anos, de modo a suprir a lacuna da ausência desse tipo de estudo e de alcançar o objetivo inicial almejado. Contudo, faz-se necessário sugerir o aumento na quantidade de estudos, teóricos e empíricos, sobre a temática nos bancos de dados nacionais e internacionais, visto que há uma carência de pesquisas correlacionando acerca dos vínculos afetivos e mulheres em situação de cárcere. Espera-se ao final do estudo demonstrar que as relações afetivas e sexuais são fundamentais a ressocialização, proteção e rede de apoio destas mulheres, sendo fundamental para a interna conseguir pagar sua pena de forma mais leve.