Introdução: Após mais de dois anos da Organização Mundial de Saúde (OMS) ter declaração uma pandemia a nível global, a qual assolou todo o mundo, o Brasil enfrentou três grandes ondas de infecção pelo vírus, em todas com alta taxa de letalidade chegando a ter mais de quatro mil mortes diárias. Este cenário causou afetação no sistema de saúde e, ainda, por mais que em 2022 o cenário encontra-se positivamente evoluído, com grande parte da população vacinada e quase todas as atividades sociais retornando ao presencial, a recomendação é que se deve continuar lançando mãos de comportamentos preventivos orientados pela OMS e autoridades sanitárias locais. A pandemia da COVID-19 representa um dos mais graves problemas sanitários em escala mundial no século XXI. Enfatiza-se que todo o cenário real que caracteriza a crise pandêmica, refletiu em impactos emocionais, provocando implicações mentais e comportamentais que influenciam a qualidade de vida da população geral e, em especial, de trabalhadores. O impacto causado pela pandemia da COVID-19 está presente em muitos sentidos e áreas de vivências. Fatos que foram impactantes não somente na saúde física, mas em toda a qualidade de vida da pessoa, no que se refere a percepção frente à sua satisfação pessoal associada aos aspectos de crença, bem-estar e realização pessoal, saúde, relacionamentos interpessoais, lazer e condições sociais. Fundamentação teórica: Com o retorno das atividades laborais presencias, mesmo com flexibilizações de medidas e doses de vacinas aplicadas, tornou-se cada vez mais indispensável a percepção de clima de segurança, definido como a percepção individual e a partilha dessa percepção entre os colaboradores de uma organização, para o seu bom funcionamento e bem-estar dos colaboradores e rotina normal da população geral. Essas percepções compartilhadas influenciam inúmeros fatores, incluindo a tomada de decisões de gestão, normas e expectativas de segurança organizacional, que consequentemente também influencia diretamente no comportamento do colaborador. Então, a relação do impacto da qualidade de vida nos comportamentos seguros, incluindo de prevenção de infecção, parece clara: quanto mais o colaborador sente que algum aspecto de sua vida pode estar ameaçado, mais segurança ele buscará. Para tanto, o clima de segurança é crucial para garantir um ambiente seguro, com comportamentos saudáveis, incluindo preventivos contra infecções como a COVID-19, consequentemente com o menor índice de acidentes ou doenças que possam ser geradas no contexto laboral. Por isso, questiona-se na presente dissertação qual a relação entre o impacto na qualidade de vida, clima de segurança do trabalho e o comportamento preventivo na pandemia da COVID-19? Objetivos: Para tanto, a pesquisa tem como principal objetivo verificar a influência da percepção de segurança do trabalho e impacto na qualidade de vida nos comportamentos preventivos relacionados a COVID-19. Especificamente, propõe-se reunir evidências psicométricas de escalas que mensurem o impacto da pandemia na qualidade de vida, clima de segurança no trabalho e comportamentos preventivos na COVID-19; identificar a relação entre o impacto na qualidade de vida durante a COVID-19 e comportamentos preventivos na população geral, além de verificar a relação entre o impacto da COVID-19 na qualidade de vida, clima de segurança e comportamentos preventivos, em trabalhadores inseridos regularmente no mercado de trabalho. A fim de alcançar os objetivos, foram realizados dois artigos empíricos. Métodos artigo 1, estudo 1: O artigo 1, de título “Impacto na qualidade e comportamento preventivo: evidências psicométricas de medidas" foi dividido em dois estudos, o primeiro contou com 203 participantes oriundos de cidades nordestinas (Midade = 26,98; DP = 10,51), variando de 18 até 74 anos. A maioria foi do sexo feminino (67%), solteiros (80,3%), heterossexuais (70%), com ensino superior incompleto (41,4%), os quais responderam a Escala de Impacto da COVID-19 na Qualidade de Vida (COV19-QoL), a Escala do Comportamento Preventivo de infecção por COVID-19 (ECPI19) e questionário sociodemográfico. Resultados artigo 1, estudo 1: Por meio de análises fatoriais exploratórias robustas reuniram evidências de validade interna das escalas COV19-QoL e ECPI19, ambas resultaram em um único fator com valor próprio > 1 [COV19-QoL (3,57) e ECPI19 (2,63)] que explicam 59% e 53% da variância total, respectivamente. Utilizou-se, também, parâmetros individuais dos itens, via TRI, atestando poder de discriminação, dificuldade e quantidade de informação adequadas. Com cargas fatoriais e índices de consistência internas (alfa de Cronbach e Ômega de McDonald) igualmente satisfatórios. Método artigo 1, estudo 2: No segundo estudo, estes modelos foram testados em amostra independente, composta por 233 participantes oriundos de cidades nordestinas (Midade =26,88; DP = 9,87), variando de 18 até 74 anos. A maioria foi do sexo feminino (62,2%), solteiros (72,1%), heterossexuais (70,8%), com ensino superior incompleto (41,2%). Os quais responderam aos mesmos instrumentos do primeiro estudo. Resultados artigo 1, estudo 2: Por meio de análises fatoriais confirmatórias categórica WLSMV foi possível avaliar o bom ajuste dos modelos unifatoriais da COV19-QoL (CFI = 0,99, TLI = 0,99, RMSEA = 0,02 (IC 90% = 0,00-0,08) e Pclose = 0,74) e ECPI19 (CFI = 0,98, TLI = 0,96, RMSEA = 0,09 (IC 90% = 0,00-4,0,14) e Pclose = 0,06), que apresentam boas evidências de consistência internas (alfa de Cronbach e Ômega de McDonald). Método artigo 2: O segundo artigo, intitulado “Comportamento Preventivo, Impacto na Qualidade de Vida e Clima de Segurança: um modelo preditivo”, contou-se com uma amostra composta por 376 participantes oriundos de cidades nordestinas (Midade = 27,19 anos; DP = 9,96), variando de 18 até 74 anos. A maioria foi do sexo feminino (64,1%), solteiros (75,3%), heterossexuais (73,7%), com ensino superior incompleto (40,2%). Quanto ao contexto da pandemia, 88,8% afirmaram não fazer parte da linha de frente. Responderam aos mesmos instrumentos do artigo 1, acrescidos da Escala Curta de Clima de Segurança (ECS). Resultados artigo 2: Em um primeiro momento, com análise fatorial exploratória robusta reuniu-se evidências de validade interna da ECS, que resultou em um único fator, com valor próprio > 1 [EC (4,24)] que explicou 71% da variância total, parâmetros individuais dos itens, via TRI, atestarem poder de discriminação, dificuldade e quantidade de informação adequadas. Com cargas fatoriais e índices de consistência internas (alfa de Cronbach e Ômega de McDonald) igualmente aceitáveis. Na sequência, correlações r de Pearson, seguidas de regressão múltipla hierárquica foram realizadas a fim de testar um modelo explicativo de comportamentos preventivos da COVID-19, no contexto laboral. Os resultados sugerem que, impacto na qualidade de vida explica de maneira positiva o comportamento preventivo, ou seja, quanto mais os trabalhadores percebem uma ameaça a sua saúde (física, psicológica ou social), mais comportamentos preventivos buscam ter. Para além disso, após inserir clima de segurança no modelo, este permaneceu estatisticamente significativo [F(2;373) = 20,42; p < 0,001; R² = 10%], explicando na mesma direção, sugerindo que quanto mais os profissionais se percebem seguros no ambiente de trabalho, com uma percepção individual de equipamentos, comunicação e gestão, para além de uma afetação na sua qualidade de vida, mais comportamentos preventivos irão adotar. Discussões, em andamento: Até o presente momento, ressalta-se que a presente pesquisa apresenta contribuição importante para o estudo das temáticas, com evidências animadoras de três instrumentos que tiveram asseguradas as suas qualidades métricas. Com a discussão geral em andamento, projeta-se contribuições alinhar as contribuições empíricas com práticas, sugerindo alinhar esforços para combater as dificuldades enfrentadas dos profissionais responsáveis e das pessoas no cotidiano durante o desenvolvimento de suas atividades. Paralelamente, visa-se minimizar o medo de algo novo, do desconhecido, da incerteza de protocolos de avaliação e intervenção, com rastreio e possibilidades de ajuda para manter um saudável status. Com informações relevantes, científicas que procurem meios de avaliação para entender as repercussões psicológicas da pandemia, as emoções e fatores de proteção envolvidos. Reveladores do papel de construtos psicológicos (clima de segurança no trabalho, impacto na qualidade de vida e comportamentos preventivos) em comportamentos disfuncionais, visando sempre a promoção de saúde mental.