Historicamente, os povos e as comunidades tradicionais têm seus territórios invadidos e expropriados para exploração de riquezas e violação de direitos em nome da ordem do Estado e do progresso do capital. Nesse cenário, são as mulheres que estão à frente da luta em defesa da vida e do território das
águas, campos e florestas. Inspirada nas “escrevivências” de Conceição Evaristo e a partir do pensamento ecofeminista, com ênfase na reprodução da vida e no trabalho reprodutivo da pesca artesanal, com a concepção de comunidade das sobreviventes, percebemos que é uma luta coletiva e importante no que diz respeito à produção de subjetividade. Objetivou-se cartografar processos de subjetivação, sujeição e resistência, em escrevivências de pescadoras artesanais. Método: Trata-se de uma cartografia de escrevivências, com recursos heteroautobiográficos, um modo de acompanhar os processos de subjetivação, marcados por atravessamentos macro e micropolíticos, denúncias e enunciados que expressam sujeição e resistência e que produzem afetação ao corpo-território. A produção de informações se deu por meio de encontros, rodas de conversa e reuniões que ocorreram presencial e remotamente, em virtude da pandemia de Covid-19, descritos na tabela 1, no corpo do texto. A exemplo: a) VI Encontro Nacional das Pescadoras; Tenda do escuta; Mulheres na luta por moradia, terra e território (Live da resistência); IV seminário interestadual de pescadores e pescadoras: Construindo o bem viver (Crateús-CE); XV Romaria da terra e das águas do Piauí (Piripiri-PI); VIII Grito da Pesca Artesanal (Luziânia-GO) e reuniões presenciais de moradores, pescadoras, pescadores e movimentos sociais frente a situações de conflitos no território da Área de Proteção Ambiental do Delta do Parnaíba (APA) e outros. Ao todo, foram 31 encontros, 17 presenciais e 14 na modalidade remota, realizados entre março de 2021 e novembro de 2022, com registro de escrevivências 33 mulheres dos movimentos sociais pesqueiros. Neste estudo, além da cartografia de narrativas das mulheres, compartilhamos cartografias de escrevivências da autora, mulher negra, psicóloga de comunidade tradicional pesqueira. A análise cartográfica dos processos de subjetivação é feita a partir da discussão dos enunciados-analisadores que emergem das escrevivências e expressam as relações de poder em disputa e as linhas de forças da vida no território tradicional pesqueiro. Resultados: a) reconheceu-se que nossos corpos se conectam intimamente ao território sagrado, atravessando toda a subjetividade do devir pescadora artesanal, assim potencializando a luta e a resistência pela preservação do território-corpo; b) articulação com os movimentos coletivos de mulheres e essencial na organização pela luta de nossos direitos, valorizando lideranças femininas e o potencial de nossas vozes; c) Os modos de vida que resistem encontram-se no território, nas relações, no bem viver e no comum gerado pela prática da pesca artesanal nas comunidades considerando a importância de nossas histórias e assim de nossa ancestralidade, na construção de escrevivências, que compõem cartografias de lutas nos territórios das águas.